Já reparou em quantas notícias estão surgindo sobre os altos preços
dos carros no Brasil? Periódicos afirmando que são os mais caros do
mundo, informações sobre o aumento da inadimplência nos financiamentos e
pessoas fazendo “ginástica financeira” para pagar os custos de seus
carros, você viu?
O tema está em alta e há motivos. O principal é que, na hora da compra, pouca gente considera a Estrutura de Preços dos carros, que começa com (i) o preço de compra; passa pelos (ii) custos de propriedade; abrange (iii) o custo de oportunidade e termina com (iv) a desvalorização e facilidade de revenda (liquidez).
Devido a essa realidade, nos últimos anos muitos compraram carros além das suas capacidades financeiras. A facilidade de crédito e os incentivos governamentais, principalmente após a eclosão da crise de 2008, contribuíram para o complicado quadro atual.
Carro, um tema que merece reflexões
Nesse cenário, tratar do tema “seu carro e seu bolso” é quase uma “necessidade pública”, como comentou meu amigo Conrado Navarro. Assim, vamos iniciar uma série de artigos no Dinheirama sobre “finanças automotivas”, considerando o que temos observado no nosso trabalho de consultoria automotiva pessoal.
Antes de tudo, vale destacar que na compra de um carro é fundamental aliar qualidade, segurança e economia. Afinal, não é interessante ter um ótimo carro tecnicamente, mas além das possibilidades financeiras pessoais. Do mesmo modo, não é aconselhável economizar excessivamente comprando automóveis com projetos ruins e sem segurança.
Devemos lembrar que, no Brasil, muitas pessoas realmente necessitam dos carros em função das ineficientes políticas de transporte. Assim, temos que nos adaptar a essa realidade e procurar escolher os carros de forma consciente.
A Estrutura de Preços na prática
Neste artigo, o objetivo é apresentar a referida Estrutura de Preços por meio de um exemplo prático. Para tanto, vamos selecionar um Honda Civic LXS 2012, supondo que o compramos no início de 2012 e ficaremos com ele por quatro anos, rodando 15 mil km anuais.
Essa escolha se justifica pela teórica maior previsibilidade de custos de um carro deste segmento, considerando a durabilidade de seus componentes. Como já existem alguns artigos sobre carros “populares”, a ideia é ir além nas estimativas, aprofundando a análise com base em um carro que fica próximo aos 12 mais vendidos.
O foco é expor um caso factível de impactos financeiros, mas não existe a pretensão de prever com exatidão todas as inúmeras variáveis, inclusive por conta das diferenças regionais no Brasil. Também não consideraremos tarifas de pedágio, taxa de inspeção veicular e prováveis reajustes em taxas como licenciamento e DPVAT. Vamos aos números:
1. Custos de Aquisição
1.1 Preço
No início do ano, o preço do modelo era de aproximadamente R$ 70 mil (sem redução do IPI).
1.2 Despesas Detran – Registro de carro 0 km
Para colocar o carro em circulação, deverá haver o seu registro, emissão de documentos e emplacamento. Fazendo isso diretamente no DETRAN-SP, incidem:
2.1 IPVA
O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores é devido anualmente e, em SP, a alíquota é de 4%. Para as estimativas dos próximos anos, usamos o valor do carro depreciado (desvalorização detalhada no item 3.1 abaixo).
2.2 Licenciamento
É o processo de emissão do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV), que deve ser renovado anualmente. Em SP, custa R$ 62,70 e, optando pelo licenciamento eletrônico, paga-se R$ 11,00 para envio pelos Correios.
2.3 DPVAT
Trata-se do Seguro para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre. É pago anualmente por todos os proprietários e custa R$ 101,16:
2.4 Seguro
Como se sabe, é importante proteger o seu patrimônio e estar resguardado contra danos causados a terceiros. O seguro é o custo com maior variação em função de diversos fatores, como modelo do carro, perfil dos condutores, região e condições de uso.
Utilizaremos como referência o valor de 3% do preço do carro zero km (número próximo ao obtido em testes para este veículo). Estimaremos um reajuste de 10% a cada ano, porque esse custo tende a aumentar com o passar do tempo. Lembramos que o seguro de veículos é o item que mais aumentou em toda a história do Plano Real.
2.5 Consumo
Para os nossos cálculos, usaremos a média aproximada obtida nos testes desse carro, que é de 10 km/l de gasolina. Consideraremos, ainda, os 15 mil km rodados por ano e o preço de R$ 2,70 do litro da gasolina (próximo à média nacional informada no site da ANP).
2.6 Revisões
Pelo plano de manutenção dessa fabricante, as revisões devem ocorrer a cada 10 mil km. Como referência, utilizaremos os preços das revisões básicas informados na edição Melhor Compra 2012 da Revista Quatro Rodas, lembrando que nosso carro rodará 15 mil km por ano.
2.7 Peças e mão-de-obra
Além do custo das revisões programadas, pode ser necessário trocar peças não cobertas pela garantia (normalmente as de desgaste natural). Adicionalmente, deve-se calcular o custo da mão de obra. Para nossa conta, utilizaremos o preço de 1 hora de trabalho em concessionária, para cada serviço, que custa aproximadamente R$ 180,00.
As peças escolhidas baseiam-se no histórico da geração anterior (mas os preços são do atual modelo), e também incluímos alinhamento e balanceamento (realizados a cada 10 mil km).
2.8 Pneus
Os pneus têm enorme importância na segurança, porque são os únicos pontos de contato do carro com o solo. Por isso, não vale a pena tentar economizar comprando unidades de qualidade duvidosa. No nosso exemplo, estimaremos a troca do jogo a cada 30 mil km, optando por marcas de primeira linha, com preço aproximado de R$ 500,00 cada.
2.9 Multas
Sabemos da polêmica de incluir multas na simulação, porque não é algo certo e determinado. Mas não podemos ignorar o aumento extraordinário no número de autuações, que se refletem nos custos do carro. Portanto, pensando em algo factível, vamos estimar o custo anual de R$ 130,00.
2.10 Estacionamento
Mais um item polêmico pelos mesmos motivos, mas também vamos computá-lo. Muitas pessoas têm esse gasto fixo no domicílio, trabalho ou estabelecimentos de ensino. Outros gastam esporadicamente. Pensando também nas significativas diferenças regionais, vamos estimá-lo em R$ 150,00 mensais.
2.11 Lavagem:
Completando nossa sequência de itens polêmicos, vamos incluir os gastos com limpeza. Considerando que muitos têm essa despesa, inclusive por conta de outros serviços estéticos, vamos adotar o custo de duas lavagens de R$ 30,00 por mês.
3. Venda do carro
Hoje a maioria das pessoas tem consciência de que carro não é investimento. Considerando que temos os carros mais caros do mundo, é aconselhável pensar nas futuras condições de venda, principalmente porque há significativas diferenças entre os modelos.
3.1 Desvalorização
É um dos itens que mais impacta financeiramente. No nosso caso, considerando a observação do mercado, estimaremos que nosso carro perderá, em relação ao preço de compra, 14% no primeiro ano, 19% no segundo e 25% no terceiro. O seus valores de revenda serão:
3.2 Liquidez e “Preço Efetivo de Venda”
Liquidez é a facilidade com a qual o carro pode ser convertido em dinheiro, sem perda significativa de seu valor. Quanto mais rápido e eficiente for o processo, maior será a liquidez. Sabemos que o modelo analisado tem histórico favorável nesse aspecto.
No entanto, também temos ciência de que nem sempre conseguimos receber o valor que pedimos no nosso usado. No geral, quanto maior a pressa e a busca por conveniência, menor será o valor obtido. Além disso, também se percebe que está cada vez mais difícil conseguir o valor indicado pela FIPE, que é o principal referencial do mercado.
Enfim, para nossa simulação, vamos adotar que nosso carro receberá uma proposta de compra com uma desvalorização adicional de 5% sobre o valor da tabela. Caso optássemos pela negociação, o “Preço efetivo de venda” seria de R$ 49.875,00, representando uma perda de R$ 2.625,00.
4. Custo de oportunidade
Basicamente, é o custo de uma escolha quando comparado com alternativas renunciadas. Como nosso objetivo é calcular o Impacto Financeiro Total (não apenas os gastos) do carro, vamos incluí-lo.
No nosso caso, gastamos R$ 70 mil na compra. Se tivéssemos optado por um investimento com retorno de 8% ao ano (taxa SELIC atual), no final dos quatro anos atingiríamos o rendimento de R$ 25.234,00.
5. Financiamento
Hoje a maior parte da frota nacional possui algum tipo de financiamento. Portanto, apresentaremos os dados “com” e “sem empréstimo”. Na hipótese da contratação, usaremos como critério o financiamento de 50% do veículo, isto é, R$ 35.000, no prazo de 48 meses (tempo em que ficaremos com o carro), com juros de 1,5% ao mês.
Assim, teríamos parcelas de R$ 1.028,12, totalizando R$ 49.349,76. Ainda, haveria o custo do IOF, de aproximadamente R$ 595,00 (conforme informação obtida em banco líder de mercado), que pagaríamos à vista e não incluiríamos no empréstimo. O total gasto atingiria R$ 49.944,76.
Isso representaria um impacto adicional, comparando com a compra à vista, de R$ 14.944,76.
6. Resultados Finais
Enfim, chegamos aos seguintes números:
Os números falam por si, não é? Impressionantes? Inacreditáveis? Enfim, escolha o adjetivo que você achar melhor para definir esse quadro, que pode variar bastante em função do modelo escolhido. Entre tantos valores estratosféricos, chama atenção o impacto financeiro mensal acima dos R$ 3,5 mil – quase seis salários mínimos.
Colocando em perspectiva esta nossa análise, vale destacar uma frase recentemente mencionada pelo economista Ricardo Amorim: “Se você ganha mais de R$ 3.500,00 por mês, está entre os 4% mais ricos do mundo”.
Fica a reflexão: quantas pessoas podem realmente ter um carro deste porte, considerando o orçamento familiar?
Vemos que a Estrutura de Preços dos carros no Brasil é caríssima e dificilmente pode ser visualizada nas decisões de compra baseadas apenas na contabilidade mental. Ao incluirmos o financiamento, o cenário é ainda mais complicado, principalmente se a entrada for menor.
Por fim, observamos que o carro, apesar de ser uma necessidade para a maioria, é um bem gerador de imensos impactos financeiros. Sem planejamento, o sonho de ter um carro pode, sim, se tornar um pesadelo.
A melhor solução é agir com consciência e cautela na hora da compra, escolhendo carros compatíveis com o seu padrão de vida. Se você quer atingir a sonhada liberdade, representada também no carro, pense bem e escolha com inteligência financeira.
Obrigado e até a próxima.
Leandro Mattera - Dinherama
O tema está em alta e há motivos. O principal é que, na hora da compra, pouca gente considera a Estrutura de Preços dos carros, que começa com (i) o preço de compra; passa pelos (ii) custos de propriedade; abrange (iii) o custo de oportunidade e termina com (iv) a desvalorização e facilidade de revenda (liquidez).
Devido a essa realidade, nos últimos anos muitos compraram carros além das suas capacidades financeiras. A facilidade de crédito e os incentivos governamentais, principalmente após a eclosão da crise de 2008, contribuíram para o complicado quadro atual.
Carro, um tema que merece reflexões
Nesse cenário, tratar do tema “seu carro e seu bolso” é quase uma “necessidade pública”, como comentou meu amigo Conrado Navarro. Assim, vamos iniciar uma série de artigos no Dinheirama sobre “finanças automotivas”, considerando o que temos observado no nosso trabalho de consultoria automotiva pessoal.
Antes de tudo, vale destacar que na compra de um carro é fundamental aliar qualidade, segurança e economia. Afinal, não é interessante ter um ótimo carro tecnicamente, mas além das possibilidades financeiras pessoais. Do mesmo modo, não é aconselhável economizar excessivamente comprando automóveis com projetos ruins e sem segurança.
Devemos lembrar que, no Brasil, muitas pessoas realmente necessitam dos carros em função das ineficientes políticas de transporte. Assim, temos que nos adaptar a essa realidade e procurar escolher os carros de forma consciente.
A Estrutura de Preços na prática
Neste artigo, o objetivo é apresentar a referida Estrutura de Preços por meio de um exemplo prático. Para tanto, vamos selecionar um Honda Civic LXS 2012, supondo que o compramos no início de 2012 e ficaremos com ele por quatro anos, rodando 15 mil km anuais.
Essa escolha se justifica pela teórica maior previsibilidade de custos de um carro deste segmento, considerando a durabilidade de seus componentes. Como já existem alguns artigos sobre carros “populares”, a ideia é ir além nas estimativas, aprofundando a análise com base em um carro que fica próximo aos 12 mais vendidos.
O foco é expor um caso factível de impactos financeiros, mas não existe a pretensão de prever com exatidão todas as inúmeras variáveis, inclusive por conta das diferenças regionais no Brasil. Também não consideraremos tarifas de pedágio, taxa de inspeção veicular e prováveis reajustes em taxas como licenciamento e DPVAT. Vamos aos números:
1. Custos de Aquisição
1.1 Preço
No início do ano, o preço do modelo era de aproximadamente R$ 70 mil (sem redução do IPI).
1.2 Despesas Detran – Registro de carro 0 km
Para colocar o carro em circulação, deverá haver o seu registro, emissão de documentos e emplacamento. Fazendo isso diretamente no DETRAN-SP, incidem:
- Taxa de registro do veículo: R$ 204,69;
- Taxa de lacração: R$ 70,99 (realizada no órgão).
2.1 IPVA
O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores é devido anualmente e, em SP, a alíquota é de 4%. Para as estimativas dos próximos anos, usamos o valor do carro depreciado (desvalorização detalhada no item 3.1 abaixo).
2.2 Licenciamento
É o processo de emissão do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo (CRLV), que deve ser renovado anualmente. Em SP, custa R$ 62,70 e, optando pelo licenciamento eletrônico, paga-se R$ 11,00 para envio pelos Correios.
2.3 DPVAT
Trata-se do Seguro para Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre. É pago anualmente por todos os proprietários e custa R$ 101,16:
2.4 Seguro
Como se sabe, é importante proteger o seu patrimônio e estar resguardado contra danos causados a terceiros. O seguro é o custo com maior variação em função de diversos fatores, como modelo do carro, perfil dos condutores, região e condições de uso.
Utilizaremos como referência o valor de 3% do preço do carro zero km (número próximo ao obtido em testes para este veículo). Estimaremos um reajuste de 10% a cada ano, porque esse custo tende a aumentar com o passar do tempo. Lembramos que o seguro de veículos é o item que mais aumentou em toda a história do Plano Real.
2.5 Consumo
Para os nossos cálculos, usaremos a média aproximada obtida nos testes desse carro, que é de 10 km/l de gasolina. Consideraremos, ainda, os 15 mil km rodados por ano e o preço de R$ 2,70 do litro da gasolina (próximo à média nacional informada no site da ANP).
2.6 Revisões
Pelo plano de manutenção dessa fabricante, as revisões devem ocorrer a cada 10 mil km. Como referência, utilizaremos os preços das revisões básicas informados na edição Melhor Compra 2012 da Revista Quatro Rodas, lembrando que nosso carro rodará 15 mil km por ano.
2.7 Peças e mão-de-obra
Além do custo das revisões programadas, pode ser necessário trocar peças não cobertas pela garantia (normalmente as de desgaste natural). Adicionalmente, deve-se calcular o custo da mão de obra. Para nossa conta, utilizaremos o preço de 1 hora de trabalho em concessionária, para cada serviço, que custa aproximadamente R$ 180,00.
As peças escolhidas baseiam-se no histórico da geração anterior (mas os preços são do atual modelo), e também incluímos alinhamento e balanceamento (realizados a cada 10 mil km).
2.8 Pneus
Os pneus têm enorme importância na segurança, porque são os únicos pontos de contato do carro com o solo. Por isso, não vale a pena tentar economizar comprando unidades de qualidade duvidosa. No nosso exemplo, estimaremos a troca do jogo a cada 30 mil km, optando por marcas de primeira linha, com preço aproximado de R$ 500,00 cada.
2.9 Multas
Sabemos da polêmica de incluir multas na simulação, porque não é algo certo e determinado. Mas não podemos ignorar o aumento extraordinário no número de autuações, que se refletem nos custos do carro. Portanto, pensando em algo factível, vamos estimar o custo anual de R$ 130,00.
2.10 Estacionamento
Mais um item polêmico pelos mesmos motivos, mas também vamos computá-lo. Muitas pessoas têm esse gasto fixo no domicílio, trabalho ou estabelecimentos de ensino. Outros gastam esporadicamente. Pensando também nas significativas diferenças regionais, vamos estimá-lo em R$ 150,00 mensais.
2.11 Lavagem:
Completando nossa sequência de itens polêmicos, vamos incluir os gastos com limpeza. Considerando que muitos têm essa despesa, inclusive por conta de outros serviços estéticos, vamos adotar o custo de duas lavagens de R$ 30,00 por mês.
3. Venda do carro
Hoje a maioria das pessoas tem consciência de que carro não é investimento. Considerando que temos os carros mais caros do mundo, é aconselhável pensar nas futuras condições de venda, principalmente porque há significativas diferenças entre os modelos.
3.1 Desvalorização
É um dos itens que mais impacta financeiramente. No nosso caso, considerando a observação do mercado, estimaremos que nosso carro perderá, em relação ao preço de compra, 14% no primeiro ano, 19% no segundo e 25% no terceiro. O seus valores de revenda serão:
3.2 Liquidez e “Preço Efetivo de Venda”
Liquidez é a facilidade com a qual o carro pode ser convertido em dinheiro, sem perda significativa de seu valor. Quanto mais rápido e eficiente for o processo, maior será a liquidez. Sabemos que o modelo analisado tem histórico favorável nesse aspecto.
No entanto, também temos ciência de que nem sempre conseguimos receber o valor que pedimos no nosso usado. No geral, quanto maior a pressa e a busca por conveniência, menor será o valor obtido. Além disso, também se percebe que está cada vez mais difícil conseguir o valor indicado pela FIPE, que é o principal referencial do mercado.
Enfim, para nossa simulação, vamos adotar que nosso carro receberá uma proposta de compra com uma desvalorização adicional de 5% sobre o valor da tabela. Caso optássemos pela negociação, o “Preço efetivo de venda” seria de R$ 49.875,00, representando uma perda de R$ 2.625,00.
4. Custo de oportunidade
Basicamente, é o custo de uma escolha quando comparado com alternativas renunciadas. Como nosso objetivo é calcular o Impacto Financeiro Total (não apenas os gastos) do carro, vamos incluí-lo.
No nosso caso, gastamos R$ 70 mil na compra. Se tivéssemos optado por um investimento com retorno de 8% ao ano (taxa SELIC atual), no final dos quatro anos atingiríamos o rendimento de R$ 25.234,00.
5. Financiamento
Hoje a maior parte da frota nacional possui algum tipo de financiamento. Portanto, apresentaremos os dados “com” e “sem empréstimo”. Na hipótese da contratação, usaremos como critério o financiamento de 50% do veículo, isto é, R$ 35.000, no prazo de 48 meses (tempo em que ficaremos com o carro), com juros de 1,5% ao mês.
Assim, teríamos parcelas de R$ 1.028,12, totalizando R$ 49.349,76. Ainda, haveria o custo do IOF, de aproximadamente R$ 595,00 (conforme informação obtida em banco líder de mercado), que pagaríamos à vista e não incluiríamos no empréstimo. O total gasto atingiria R$ 49.944,76.
Isso representaria um impacto adicional, comparando com a compra à vista, de R$ 14.944,76.
6. Resultados Finais
Enfim, chegamos aos seguintes números:
Os números falam por si, não é? Impressionantes? Inacreditáveis? Enfim, escolha o adjetivo que você achar melhor para definir esse quadro, que pode variar bastante em função do modelo escolhido. Entre tantos valores estratosféricos, chama atenção o impacto financeiro mensal acima dos R$ 3,5 mil – quase seis salários mínimos.
Colocando em perspectiva esta nossa análise, vale destacar uma frase recentemente mencionada pelo economista Ricardo Amorim: “Se você ganha mais de R$ 3.500,00 por mês, está entre os 4% mais ricos do mundo”.
Fica a reflexão: quantas pessoas podem realmente ter um carro deste porte, considerando o orçamento familiar?
Vemos que a Estrutura de Preços dos carros no Brasil é caríssima e dificilmente pode ser visualizada nas decisões de compra baseadas apenas na contabilidade mental. Ao incluirmos o financiamento, o cenário é ainda mais complicado, principalmente se a entrada for menor.
Por fim, observamos que o carro, apesar de ser uma necessidade para a maioria, é um bem gerador de imensos impactos financeiros. Sem planejamento, o sonho de ter um carro pode, sim, se tornar um pesadelo.
A melhor solução é agir com consciência e cautela na hora da compra, escolhendo carros compatíveis com o seu padrão de vida. Se você quer atingir a sonhada liberdade, representada também no carro, pense bem e escolha com inteligência financeira.
Obrigado e até a próxima.
Leandro Mattera - Dinherama
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