Em 24 de novembro de 2010, Alexandre Tombini foi escolhido pela presidente Dilma para chefiar o Banco Central do Brasil. Desde então, não houve um ano sequer em que foi cumprido o centro da meta de inflação, de 4,5%. Isso é bastante grave.
Agora, na tentativa de recuperar a credibilidade perdida após a frustração com esse comportamento, o Banco Central vem reafirmando o compromisso de convergir a inflação para 4,5% até dezembro de 2016.
Note que há um desafio bastante grande em levar a inflação de 9% neste ano para 4,5% em 2016. Ainda assim, a autoridade monetária mantém o discurso firme nesse sentido. “Estamos com confiança total que conseguiremos fazer isso”, disse Tony Volpon, diretor do BC, em 12 de junho de 2015.
Não se trata simplesmente de apenas mais uma meta potencialmente descumprida pelo atual governo… O desrespeito à meta de inflação expõe uma crise de credibilidade na autoridade monetária não vista há décadas, que torna inviável a manutenção de seu quadro atual.
Veja bem…
Levar a inflação de 9% para 4,5% num intervalo de 12 meses impõe um custo muito alto para a sociedade. O juro precisa ser colocado em níveis muito elevados, associados a uma recessão pronunciada, para garantir essa convergência em meio a um choque muito grande de preços administrados – lembre-se que tivemos liberação de preços represados de energia elétrica, gasolina e câmbio.
Num cenário como esse, seria natural estender o horizonte de convergência, potencialmente para o começo de 2017. Assim seria se tivéssemos condições para tanto.
O grande problema é que o Banco Central, depois de anos sucessivos de complacência com a inflação, não dispõe de credibilidade. Dessa forma, na tentativa de recuperar sua reputação, tenta fazer convergir ao centro da meta com celeridade.
Sob esse Banco Central, deixar para 2017 aumentaria ainda mais a inércia inflacionária e as expectativas continuariam desancoradas.
E, agora, a situação se agrava. O BC prometeu tanto que entregaria o centro da meta em 2016 que postergar a convergência representaria o golpe de misericórdia em sua já combalida reputação.
A evidência empírica fala por si a respeito da dificuldade em curso. O gráfico abaixo mostra a persistência inflacionária, com ênfase no realinhamento de preços administrados:
Alexandre Tombini: Presidente do Banco Central |
Mediante realinhamento de preços relativos, demorar um pouco mais para convergir seria normal. Mas como não convergimos desde 2009, ninguém acredita se a promessa não vier acompanhada de esforço monetário além do que seria razoável. Assim, a inércia fica maior, dificultando a convergência.
O economista Alexandre Schwartsman resumiu de forma brilhante a questão:
“Caso o BC mantenha a inflação flutuando ao redor da meta, de forma que, em média, as duas sejam bastante próximas, é claro que a melhor aposta para a inflação em um dado ano passa a ser a própria meta. É isto que chamamos de ancoragem de expectativas.
Imagine, contudo, que, em face de um desvio suficientemente grande, o BC anuncie para a sociedade que estendeu o período de convergência para dois anos. Neste caso, deixa de ser verdade que a melhor expectativa de inflação para o ano corrente seja a meta. Se metade do caminho for percorrida no primeiro ano, a melhor aposta para a inflação deste ano seria a média entre a inflação do ano anterior (9,0%) e a meta (4,5%), ou seja, 6,75%.”
Quanto mais o BC demora para conseguir convergir a inflação à meta, de fato, maior a inércia inflacionária.
Ou, cada vez mais os formadores de preços e salários atribuem peso crescente à inflação passada, tornando a convergência da inflação ainda mais distante – em um processo que se retroalimenta.
O que dizer de um Banco Central que não cumpriu a meta de inflação desde que assumiu o posto, há cinco anos? E estendeu o seu período de convergência?
O que vai acontecer ou o que resta fazer?
Defendemos que a permanência do atual mandatário do BC seja revista com cuidado, está mais do que nítido a ineficiência e falta de credibilidade ao longo dos sucessivos anos sem que a meta de inflação fosse cumprida.