Raul Velloso |
A avaliação inspirou até um livro: “A recessão do governo Dilma e o abalo das concessões de 2013”, lançado nesta quarta-feira, 14, no Rio. “Levantamentos mostram que novas concessões só terão efeito, na melhor das hipóteses, em 2018. Você acha que a economia pode esperar até lá?”, questiona Velloso. A seguir, trechos das entrevista que concedeu ao jornal “O Estado de S. Paulo”.
Qual a sua avaliação sobre o anúncio das concessões?
O governo precisa trabalhar com uma agenda para mostrar serviço. É compreensível que seja assim. E ele está priorizando novas concessões. No discurso, fica bonito. Mas, na prática, nem tanto. Primeiro, é preciso resolver toda a herança maldita na infraestrutura. Como é que teremos pretendente para coisas novas na atual escassez de empreendedores e de financiamento se não resolver o passado? Além do mais, eu vi um levantamento feito por gente do setor mostrando que os projetos novos anunciados começam a se materializar apenas no final de 2018, na melhor das hipóteses. Você acha que a economia pode esperar esse tempo todo? A gente precisa de retorno mais rápido e isso só viria com a retomada do que já está aí.
O governo precisa trabalhar com uma agenda para mostrar serviço. É compreensível que seja assim. E ele está priorizando novas concessões. No discurso, fica bonito. Mas, na prática, nem tanto. Primeiro, é preciso resolver toda a herança maldita na infraestrutura. Como é que teremos pretendente para coisas novas na atual escassez de empreendedores e de financiamento se não resolver o passado? Além do mais, eu vi um levantamento feito por gente do setor mostrando que os projetos novos anunciados começam a se materializar apenas no final de 2018, na melhor das hipóteses. Você acha que a economia pode esperar esse tempo todo? A gente precisa de retorno mais rápido e isso só viria com a retomada do que já está aí.
É o tema de seu novo livro…
Tenho estudado concessões há muito tempo, sempre pegando o que eu vejo com o problema da vez. Agora identifico que o problema da vez é a questão das concessões de 2013 e também os projetos que estão na possibilidade de serem renovados, como a Via Dutra.
Tenho estudado concessões há muito tempo, sempre pegando o que eu vejo com o problema da vez. Agora identifico que o problema da vez é a questão das concessões de 2013 e também os projetos que estão na possibilidade de serem renovados, como a Via Dutra.
Quantos projetos estão nessa condição?
Sete trechos da terceira etapa do programa de rodovias federais. São 5 mil quilômetros. Mas o governo está hesitando em mexer neles.
Sete trechos da terceira etapa do programa de rodovias federais. São 5 mil quilômetros. Mas o governo está hesitando em mexer neles.
Por quê?
Teria de rever os contratos, alterando alguns parâmetros. As tarifas, por exemplo. O pacote das concessões de 2013 foi aprovado num contexto particular. Sob intensa pressão do governo para que tivesse tarifas muito baixas. Era sempre esse o objetivo do governo de Dilma Rousseff. Ocorre que o que se previu na época não aconteceu, e as empresas têm problemas agora.
Teria de rever os contratos, alterando alguns parâmetros. As tarifas, por exemplo. O pacote das concessões de 2013 foi aprovado num contexto particular. Sob intensa pressão do governo para que tivesse tarifas muito baixas. Era sempre esse o objetivo do governo de Dilma Rousseff. Ocorre que o que se previu na época não aconteceu, e as empresas têm problemas agora.
Mas qual a resistência em alterar os contratos?
O governo atual tem uma visão pragmática. Está percebendo que é preciso rever os parâmetros, não apenas para que a concessionária possa manter o contrato, mas para que, eventualmente, a concessionária possa passar adiante. Mas há temor em se renegociar os contratos porque não se sabe a reação de órgãos como o Tribunal de Contas da União.
O governo atual tem uma visão pragmática. Está percebendo que é preciso rever os parâmetros, não apenas para que a concessionária possa manter o contrato, mas para que, eventualmente, a concessionária possa passar adiante. Mas há temor em se renegociar os contratos porque não se sabe a reação de órgãos como o Tribunal de Contas da União.
Mas temos investidores no Brasil interessados em participar dessa transição?
Eu acho que não. Há escassez de investidores gabaritados e em condições de mobilizar financiamentos.
Eu acho que não. Há escassez de investidores gabaritados e em condições de mobilizar financiamentos.
E os investidores estrangeiros?
Sabemos que as empresas sondam investidores estrangeiros para passar adiante. Mas os gringos têm receio até de entrar em projetos novos. Podem pedir taxas de retorno muito elevadas – afinal, como assumir algo novo se sabem projetos antigos têm problemas não resolvidos?
Sabemos que as empresas sondam investidores estrangeiros para passar adiante. Mas os gringos têm receio até de entrar em projetos novos. Podem pedir taxas de retorno muito elevadas – afinal, como assumir algo novo se sabem projetos antigos têm problemas não resolvidos?
Fonte: “O Estado de S. Paulo”.
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